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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Noites (e dias!) tropicais

Há alguns dias estive em São Paulo. Jantei em um restaurante muito bom, com uma sobremesa maravilhosa e uma companhia mais maravilhosa ainda. Sempre que saio com ela me divirto e dessa vez não foi diferente. Porém, mais instigante do que o jantar foi o contratempo que aconteceu antes.

Morei em São Paulo por seis anos, mas já faz cinco que voltei a morar no interior. Acho que me esqueci das distâncias e tempos dos percursos e, por precaução excessiva, saí da casa do meu irmão mais cedo do que o necessário. Cheguei no local combinado cerca de 20 minutos antes do horário. Passei em uma livraria para fazer hora e acabei comprando o “Noites Tropicais” do Nelson Motta. Que livro!

Mesmo considerando que a letra da edição é um pouco maior do que na maioria dos livros, não é possível negar que suas mais de 400 páginas tragam um bom volume de informações. Ainda assim, entre sábado e domingo devorei 310 páginas sem me cansar. Pelo contrário, não vejo a hora de chegar em casa para devorar as outras cento e poucas que faltam. Foram duas noites e dois dias tropicais!

O ponto de partida do livro é a invenção da Bossa Nova. João Gilberto acabava de gravar Chega de Saudades e se tornar um ídolo nacional. Nelson Motta nessa época tinha cerca de 20 anos. Assim como ele, Chico, Gil, Caetano, Jorge Ben, Tim Maia, Roberto e Erasmo, Rita Lee, Elis, Nara, Dori e tantos outros.

O livro vai contando com uma linguagem simples e saborosa os encontros e desencontros dessa turma que escreveu a história da música popular brasileira. Cada um a sua maneira, no seu tempo. Nelson circulou por esse mundo muito à vontade e parece ser muito a vontade que ele traça a história. A cada página, meio que por acaso, um novo personagem surge de maneira natural e começa a fazer parte da MPB. E não circulam pelas páginas apenas músicos. Artistas, jornalistas, escritores e todo o tipo de figurinha carimbada da época.

Talvez o livro não agrade tanto a uma pessoa que não valoriza tanto a MPB como eu, mas certamente é uma leitura indispensável. Além de conhecer mais sobre a música e os personagens da MPB, o leitor conhece mais de história, moda, costumes, jornalismo e relacionamentos da segunda metade do século passado. Faltando cerca de 100 páginas para seu fim, estou próximo da década de 80. Lulus Santos, Cazuza e Ney Matogrosso começam a serem citados.

Já escrevi em outros posts que a MPB faz parte da minha vida. Lendo esse livro estou me sentindo dentro dela. Só me falta agora um pouco mais de coragem para largar tudo e me mudar para o Rio. Caminhar pela orla ornamentada com as ondas da praia que inspirou os acordes desses gênios. Acho que essa hora está chegando.