De uns tempos para cá tenho percebido uma queda brusca em e-mails úteis pessoais que recebo. Falo e-mails “úteis”, pois dessa lista estou excluindo todo tipo de spans, publicidade, vírus e mensagens indesejadas. Está difícil receber algo de útil, uma carta, uma mensagem ou mesmo um convite para um chopp.
Quando o e-mail surgiu e passou a fazer parte do dia a dia da população em geral, muitos o condenaram por estar acabando com o relacionamento cara a cara entre as pessoas. Eu acho sim que o e-mail deixou o relacionamento entre amigos e parentes muito mais frio. Mas ele não era o vilão dessa história, o vilão é a nossa rotina, cada vez mais conturbada e atropelada que não nos deixa tempo para nada, nem para um telefonema para um amigo querido.
Agora, percebo que o e-mail pessoal também está acabando aos poucos. Ele, que já era frio, está perdendo espaço para algo gelado. Agora tudo está sendo feito através de blogs, microblogs e sites de relacionamento. As conversas entre amigos ficaram ainda mais frias já que estão sendo “supervisionadas” por todos. Já perceberam que as pessoas estão usando esses canais para, por exemplo, dizerem aonde estão aos amigos. De uma vez por todas, excluímos o telefone e o e-mail, não nos comunicamos com quem gostamos, com a desculpa de que todos estão avisados através de um “check-in” ou de uma foto publicada no Facebook e no Twitter.
Eu uso o Facebook, Twitter, Orkut, tenho esse blog e por aí vai. Não pretendo me desfazer dessas ferramentas, mas estou preocupado com esse tipo de comunicação que estamos estabelecendo entre amigos. Passamos o dia trabalhando e interagindo com colegas de trabalho, o que acaba por criar grandes amizades. Mas as amizades antigas ficam relegadas ao segundo plano. Relegadas ao plano do acompanhamento distante através da internet.
Levando essa linha de raciocínio mais para a frente, podemos imaginar que João Gilberto sempre esteve certo. Li certa vez que ele costuma ligar para um amigo, pedem pizza cada um na sua casa e jantam conversando por telefone. Cada um comendo sua pizza, na sua mesa, na sua casa. Na época isso me pareceu o fim dos mundos, mas agora vejo que não é. Era sim o presságio do que está acontecendo hoje, só que em uma versão off-line.
Nós estamos fazendo exatamente o que João Gilberto já faz há anos. Chegamos aos lugares, publicamos na internet e nos satisfazemos em saber que nossos amigos estão em outros lugares ao mesmo tempo que a gente. Um manda uma mensagem ao outro, eu peço uma cerveja aqui e meu amigo outra por lá e ficamos felizes. Não é raro amigos trocarem fotos no Twitter do drink que estão bebendo ou do prato que estão comendo para que todos saibam. Agora que comparei isso a estratégia adotada pelo João Gilberto estou achando as duas estranhas. A dele menos e a nossa mais.
Bem, pelo menos nesse quesito podemos dizer que chegamos perto de João Gilberto, porém ainda sem a visão e a genialidade dele. Está de bom tamanho. Não seria qualquer um mesmo a antecipar o fim dos e-mails pessoais!