Quando Bethânia migrou para a Biscoito Fino, se comprometeu com alguns projetos e alguns álbuns autorais. Dois deles, lançados não há muito tempo, são homenagens às águas. O álbum “Pirata”, traz a cantora interpretando obras escolhidas a dedo que fazem referência aos rios e as águas doces. Já o álbum “Mar de Sophia” busca na obra da poetiza Sophia de Mello Breyner inspiração e versos para embalar os acordes de outras tantas músicas escolhidas a dedo e interpretadas pela cantora falando sobre o mar e as águas salgadas.
Os dois álbuns são muito inspirados. Acompanhada de verdadeiros deuses dos instrumentos, nomes como Jaime Alem (maestro constante nos trabalhos da cantora), Bethânia coloca a voz rouca e sofisticada para dar vida às águas e seus personagens. A presença de marujos, marinheiros, sereias e a própria Iemanjá é recorrente. Todas as estórias sempre passadas sobre ou ao lado das águas. Algumas faixas são tão conhecidas que têm autores desconhecidos. São cantigas populares, que de tão cantadas em determinadas regiões, caíram no “domínio público”.
Nos dois, reconheço músicas de trabalho. Em “Pirata”, duas faixas chamam a atenção: Santo Amaro e Memória das Águas. Já em “Mar de Sophia” a faixa Beira Mar é um extravaso de alegria e inspiração. Ouvindo justamente Beira Mar, em alto e bom som, entrei na portaria do jornal em que trabalho. Curtindo a sonoridade, os acordes, a voz, a letra, num verdadeiro estado de transe que chega a nos transportar do asfalto quente e seco do interior do estado de São Paulo para a beira do mar. Tudo isso foi cortado de súbito, como num susto, quando o porteiro soltou a seguinte pérola: “Olha o pagodão!”. E Bethânia merecia isso?!
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