Descontextualizadas, Regina Casé e Maria Bethânia são mulheres feias. Mulheres brasileiras, com feições até certo ponto grosseiras e mal tratadas. Porém as duas têm o dom de usar o ofício a seu favor. Nem uma nem outra precisa, e duvido que precisará um dia, recorrer a banhos de loja, cirurgias plásticas e outros tratamentos para ficarem lindas.
Há alguns anos, não me recordo quantos, fui ao cinema assistir a “Eu, tu, eles”, filme brasileiro sobre relacionamento humano musicado por Gilberto Gil. A trilha sonora é fantástica. A música tema, “Esperando na janela”, embala os sentimentos dos personagens e da platéia que consegue enxergar extrema beleza na pobreza da região nordestina onde se passam as cenas. Só uma coisa se destaca mais do que a música: Regina Casé. O personagem transforma Regina em uma pessoa bonita. Nem seus traços grosseiros, nem seu cabelo mal tratado e nem seus quilinhos a mais ofuscam a beleza das cenas. Na verdade, é ela quem deixa as cenas belas. Sua verossimilhança com o contexto da obra, não deixa dúvidas quanto a sua escolha para protagonista. Se em seu lugar estive uma mulher bonita, o filme perderia a graça. Na cena em que ela dança com um de seus amores a música do Gil, nos sentimos sentados em uma daquelas mesinhas de madeira quase podres daquele salão de chão de terra batida. Desde aquele filme comecei a enxergar Regina de outra forma. Através da essência.
Isso aconteceu recentemente também com Maria Bethânia. Já falei aqui em outros posts e quem me conhece pessoalmente também não hesitaria em dizer que sou um fã da MPB. A boa e velha MPB de Chico, Caetano, Tom e Vinícius. Porém, até uns seis meses atrás, não havia sido apresentado a Bethânia. Claro que já conhecia diversas músicas em sua voz e que já a admirava. Porém, apresentado a um disco inteiro, entrevistas, obra, nunca até o dia em que vi e ouvi pela primeira vez o DVD Tempo, tempo, tempo, tempo, gravado ao vivo em São Paulo no ano de 2005. Uma coletânea escolhida a dedo e interpretada com paixão. Bethânia naquele palco não fica apenas bonita. Fica linda! Ela flutua pelas canções chegando a dar a impressão de que incorporou as músicas. As letras saltam de sua boca com uma facilidade incrível. O arranjo é fantástico. A iluminação é fantástica. A banda é fantástica. E Bethânia, de patinho feio de outrora se torna o reflexo da beleza da mulher brasileira. A mulher batalhadora e sofrida, mas que “levanta, sacode a poeira e da a volta por cima”. Meus amigos me “torram” quando eu digo isso, mas eu espero que elas compreendam que é no bom sentido. Eu encararia Regina Casé e Maria Bethânia.
sábado, 1 de março de 2008
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